sábado, 19 de setembro de 2009

Prefiro ter um filho viado que um filho mecânico


Mecânico é uma raça escrota, puta que me pariu. Se vc for mulher, então, aí que o escroto se esmera pra ficar mais escroto ainda. Capricha na escrotice.

Pois bem, meu ar condicionado do carro quebrou. Claro, quebrou no começo do verão, né. No dia mais quente até agora. Porque, se não for assim, não tem graça. Qual a diversão de um ar condicionado quebrar no inverno? Dã.

Daí que não conheço porra nenhuma em SP, e qualquer oficina mecânica parece tão boa quanto qualquer outra, porque não tem ninguém pra me indicar um serviço de confiança e eu vou escolher pela conveniência, proximidade à minha casa, facilidade de achar endereço e telefone, etc.
E então o Le catou na net uma especializada em conserto/manutenção de ar condicionado, aqui perto (ou razoavelmente perto) de casa.

Liguei pra lá, o cara educado, falando direito... Beleza. Veio até buscar o carro aqui (não curto muito, fico nervosa com estranhos dirigindo meu carro, mas era bem mais prático, então deixei).

O cara me liga algumas horas depois, dá o orçamento, 280 reais. Disse que era problema no $%@#tato (não lembro do prefixo da palavra), que tinha que trocar o gás e o caralho a quatro.
"Beleza", pensei. Não é a coisa mais barata do mundo, mas de todos os problemas que podia ser, era o menos pior. Já cheguei a gastar 2 paus com o Brava numa troca de serpentina uma vez, que me obrigou a tirar o painel e tudo (nunca fica a mesma coisa depois...).
Sentindo que o deus responsável pelas surpresas desagradáveis tinha me dado uma folga, paguei em 2 vezes e fui lá retirar meu carrinho. O ar condicionado parecia ótimo, ligadão e bombando, super gelado. Supimpa.

Quando fui perguntar tim tim pot tim tim o que tinha acontecido com o carro, o cara veio me dando uma explicação super hermética e confusa (esses caras não gostam de entregar o jogo, impressionante. Eles são super vagos, e sempre me passam a impressão de serem desonestos ou de que não sabem nada do que estão fazendo). E começou dizendo que a pressão do gás estava errada, que aquilo não vem assim de fábrica e que alguém algum dia mexeu e fez um serviço porco.
Ora porra, comecei a me irritar. Pra começar que esse carro foi do meu irmão a vida toda, e só quem mandava consertar era meu pai. Segundo que meu pai entende pra caralho de mecânica, e nunca deixa o carro sem supervisão na mão de mecânico nenhum. Ele fica lá do lado, enchendo o saco e vistoriando o serviço. E terceiro que nem meu pai nem meu irmão nunca tinham mencionado QUALQUER problema EVER no ar condicionado. Com certeza eu saberia se tivesse acontecido.
Por essa, eu já fiquei meio puta com o caga-regra (que deu azar do meu pai ser super anal com essas coisas).
Mas enfim, não discuti.

Aí não sei porque, qual era o papo em questão, o cara soltou algo como "porque esse carro é 2001, então blá blá blá".
Eu (já ficando MAIS puta): _ Não, esse carro é 2004.
Ele: _ Não, é 2001, tenho certeza - dando aquele risinho debochado de quem diz "vai me enganar?"
Eu: _ E pq vc acha isso?
Ele: _ A placa é de 2001.
Eu: _ Meu amigo, o carro foi do meu irmão a vida inteira, eu fui comprar com ele na concessionária em 2004, zero km. O documento também diz isso. E a placa é do RJ.
Aí o cara (como cara de cu): _ Ah, é, bem.. Lá no Rio a numeração pode ser diferente.
Gee, you THINK? Fucking Genius.

Agora - adivinhem!! - o ar condicionado pifou de novo, e é esse merda que tá consertando meu carro.
"Por quê", vc pergunta?
Porque o conserto já foi pago, e está na garantia, e eu não vou pagar tudo de novo pra outro merda fazer.

Obviamente, o que foi "consertado" não estava quebrado, né, já que o problema persiste e continua igualzinho. Ou seja, sei lá como vai se fazer a respeito dessa "garantia". Quero só ver se o cara não vai inventar um OUTRO defeito, que em vez de me custar apenas a diferença ou a mesma coisa, vai me custar algo a MAIS.

Isso por quê? Porque mecânico não OUVE o que o dono do carro diz pra ele, se este dono for uma mulher. Porque eles acham que mulher não sabe porra nenhuma, não entende nada. E aí descartam o que a gente diz, o que a gente notou.
Se o imbecil tivesse, desde a primeira vez, OUVIDO quando eu falei pra ele que o ar parava de funcionar em engarrafamentos em dias quentes, ele talvez tivesse ligado a falha ao tipo de desempenho do motor (marcha lenta ou qualquer merda do gênero) ou à temperatura.
Eu não entendo o suficiente para saber em que esses fatores influenciam no mecanismo do ar, mas eu sou capaz de notar um padrão. E o padrão é: engarrafamento + calor = fudeu.
Quando o carro está andando e o dia está frio, o ar funciooooooooooooooona que é uma belezura, dá até gosto de ver.
Então supõe-se que não seja o gás, não é mesmo, CARALHO?

Ainda assim, eu dei o benefício da dúvida porque o carro já tem 5 anos e esse tipo de manutenção se faz de tempos em tempos mesmo. E porque - ha ha - o cara passou o carro numa [viadagem moderna] máquina de diagnóstico [/viadagem moderna], veja você.

Pois é. Hoje em dia não existe mais mecânico bom, existe o cara que faz o que a maquininha manda. O mecânicos de hoje não sabem mais descobrir defeitos. Antigamente, o cara tinha que manjar muito pra ser mecânico. Tinha que conhecer o sistema, saber pelo tipo de barulho e tipo de falha o que podia haver de errado. Hoje o cara liga uma "máquina que faz plim" e pá. O que sair ali no biscoito da sorte eletrônico é o que ele diz que é o defeito.

O mais legal é quando vc passa o carro na máquina, a máquina não acusa nada e diz que tá tudo joinha. E o carro continua dando defeito. E vc discutindo com o mecânico, ele jurando que seu carro tá bom, e ele não anda. Parece mentira? Não acredita? Fiquei 3 anos com um carro assim. Vendi sem conseguir resolver, porque todo mecânico recomendado passava na "máquina que faz plim" e garantia que tava OK, enquanto o carro se matava pra subir uma ladeira.
Deu pra entender porque eu ODEIO mecânicos? ¬¬

Agora a situação descrita acima se repete. A maquininha da sorte tá dizendo que o carro não tem nada, sendo que ontem eu voltei pra casa num forno ambulante, porque o ar parou bem num engarrafamento na Radial.
Mas hoje, paradinho na oficina e com tempo frio, tá lá funfando a todo vapor. Oi? Padrão? Que sei eu, uma motorista mulher, não é mesmo?

Pau no cu de todos os mecânicos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Não me sai da cabeça

Outro dia uma senhora idosa e bem vestida (conjunto de calça e bata, bolsa e sapatos combinando), com o cabelo bem pintado e escovado, me perguntou se eu podia dar uma ajuda para que ela pudesse comer um lanche.
Ou seja, me pediu esmola.

Na hora não dei, mas fiquei o dia todo pensando nisso, não me sai da cabeça.
Não sei se ela estava se fazendo de esperta (sem se dar ao trabalho de disfarçar a aparência? Por quê?), não sei se tinha algum problema (alzheimer?), não sei se é uma aposentada que gastou o dinheiro contadinho da comida com a tintura do cabelo...

Na hora, eu lembro de ter achado um absurdo, uma cara de pau sem tamanho. A gente está tão acostumado a ser enrolado, feito de besta, explorado, que a primeira coisa que vem à cabeça é que é malandragem.
E, na pressa do dia-a-dia (eu ainda tinha que passar em banco, fazer mil coisas), as nossas necessidades e compromissos parecem os mais importantes do universo, e qualquer coisa que nos atrase/atrapalhe é rotulada como inconveviente e sem importância.

Mas vai saber o que leva uma velhinha, que em teoria não deveria precisar disso, a pedir dinheiro para um estranho. Talvez estivesse mesmo precisando de ajuda e tenha achado que, por eu ser mulher, não seria ignorada. Deve ser mais difícil abordar um tiozão.
E eu agi igual a todo mundo. :-(

Devia ter parado e perguntado a ela o porquê. E dependendo da resposta, dado o dinheiro. Agora isso vai me atormentar pela eternidade. :-/

Fiquei deprimida com essa história. Que merda.

Sei lá. Pode ser só a culpa romanceando a lembrança verdadeira do ocorrido, mas agora tenho a impressão que ela estava meio desorientada.

Na hora eu só fiquei passada com a "cara de pau". Mas fico repetidamente me perguntando por que uma velhinha arrumadinha se prestaria à humilhação de pedir comida a um estranho na rua sem necessidade.

Pena que esses questionamentos não me vieram na hora, só agora.


Essa não é a primeira vez que eu, em meio à minha pressa (e por que não dizer, meu egoísmo) sou abordada por um idoso me pedindo ajuda e não ajudo. E me arrependo. E me culpo. E me agonio.

Uma vez, indo para a faculdade (atrasada, atrasadíssima), um senhor chegou junto à janela do meu carro (fechada, naturalmente) e falou alguma coisa. Supondo - provavelmente de forma acertada - que me pedia dinheiro, e sem me dar ao trabalho de virar para encará-lo, eu disse um "não" mal-humorado ainda de perfil.
Quando me virei e olhei, ele, com lindos olhos azuis, me sorria e disse algo como "vá com deus, bom dia pra vc!". E o pior é que não foi de uma forma irônica. Foi uma simpatia que me pareceu espontânea (talvez não especialmente para mim, mas uma postura positiva de forma geral), e deixava claro que não havia tomado minha recusa como pessoal; era apenas rotina pra ele, que não parecia perder tempo nem energia guardando rancor das pessoas que não o ajudavam.

O sinal abriu, eu fiquei alguns segundos indecisa, desarmada, confusa, até que alguém buzinou. Acelerei e parti com o carro, seguindo-o como o olhar pelo retrovisor, como que tomando conta para garantir que chegasse em segurança à calçada. Até perder de vista. E aí eu chorei. Muito. Fui até a faculdade chorando copiosamente dentro do carro.

Alguma coisa, no momento em que ele agiu de forma diferente do que eu esperava, me desestruturou. Eu esperava um resmungo, um dar de ombros, ou até uma atitude hostil. Não um sorriso, não uma atitude conformada, não uma gentileza sem ironia, sem falsidade, sem raiva contida.
Eu, no entanto, agi exatamente como ele esperava. Sem surpresas do lado de cá. Mais uma recusa automática de alguém que ele não conhecia e não parecia culpar.

Assim que saí da aula, liguei para minha mãe, que trabalhava perto do local do encontro, e contei o que aconteceu. Chorei de novo ao telefone. Um misto de culpa, vergonha, pena... Tanta coisa junta que nem sei. Ela me prometeu que passaria lá na saída do trabalho e daria dinheiro a ele. Isso me acalmou.
Quando cheguei em casa, soube que ela não o havia encontrado. Mas havia parado no posto próximo ao sinal, e perguntado sobre ele. Os frentistas informaram que ele de vez em quando ficava ali, que já o haviam visto antes. Então, era questão de tempo até uma de nós topar com ele, aparentemente.
Como era meu caminho, passava pelo local todo dia, sempre procurando por ele. Nunca mais o vi. Várias semanas mais tarde, calhou de minha mãe encontrá-lo. Como ela prometeu, deu-lhe dinheiro. Recebeu o mesmo sorriso e a mesma simpatia que eu, quando não lhe dei nada.

Apesar de saber que nada disso resolve nada, o desfecho da história do velhinho aplacou minha culpa, diminuiu o aperto no peito. E me deu uma sensação de lição aprendida, me fez querer ser menos egocêntrica e menos egoísta.

E aí, 20 anos depois, depois de uma segunda chance, estou eu aqui, me sentindo igualzinha a antes. Com a diferença que desta vez estou impotente, não posso tentar desfazer o resultado do meu descaso e da minha insensibilidade. A velhinha agora não pode ser rastreada, encontrada. Foi alguém que me pediu ajuda puramente por acaso, com quem eu não vou encontrar de novo.

Duas décadas depois, e em que eu mudei? O que eu aprendi?