domingo, 15 de agosto de 2010

How stuff works - Bolas de madeira


Eu adoro ver como as coisas são feitas. Mesmo as mais simples. Como por exemplo, uma bola de madeira. É, uma bola de madeira. Vc sabe como é feita uma bola de madeira? Eu não sabia.

Não é difícil de imaginar, certo? Só que eu – e provavelmente vc também - nunca tinha parado pra pensar em como elas são feitas.
De qualquer forma, se eu tivesse efetivamente parado e tentado adivinhar, teria imaginado uma idéia geral. Sem os detalhes que fazem toda a diferença e que são a graça de ver a atividade na prática.

E o mais bacana é ver que existem várias maneiras de fazer bolas de madeira.

Vendo coisas assim é que eu noto como mesmo nas coisas mais simples, o ser humano é criativo. E como existem vários caminhos diferentes pra um mesmo objetivo.
E fico pensando que, se houvesse um apocalipse e o mundo dependesse de pessoas como eu, eu duvido que a humanidade conseguisse sair do estágio de lanças com ponta de pedra lascada, e cabanas de palha.

Mas pelo menos a vila ia ser bem sinalizada, e os rabiscos nas cavernas iam ser bonitinhos…

 

 

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Prefiro ter um filho viado que um filho vizinho

neighbors-gardening
Tá, eu não prefiro ter um filho viado porque né, todo mundo é vizinho de alguém. Mas o nome da série é esse e eu tinha que fazer a gracinha.
Anyway, as pessoas são engraçadas, né? Faz mais de um mês que o teto do meu banheiro tá quase caindo por causa de um vazamento do vizinho de cima.
Assim que eu notei os primeiros sinais, avisei. O cara veio aqui, olhou tudo, trouxe o encanador de confiança dele, veio o zelador... Só faltava a porta-bandeira, tava a escola de samba toda aqui em casa.
Aí o gozado consertou o banheiro DELE, e tô até hoje esperando o mané mandar alguém vir consertar o meu. O encanador já me deu o bolo umas 4 vezes. E eu na maior boa vontade, esperando.
Desde terça, quando o o gesso finalmente abriu, tento ligar pra vizinha. Hoje eu finalmente consigo e a mulher solta os cachorros em cima de mim, como se EU tivesse culpa de alguma merda. Disse que o pessoal não veio arrumar o banheiro porque "ninguém marcou dia".

Claro, né, ô sua arrombada.


domingo, 18 de abril de 2010

Can you handle the truth?

O ser humano realmente se acha tão importante… Só mesmo uma espécie arrogante e iludida como a nossa pra achar que, depois de uma catástrofe que matou praticamente todos os animais e plantas, depois de trocentas eras glaciais, etc, a gente tem o poder de “acabar com o planeta”.

Enfim, eu poderia escrever aqui 2000 linhas sobre o que eu penso do assunto. E na verdade, sempre pensei em fazê-lo. Mas depois de debater no Orkut com alguns ingênuos e depois de conversar e trocar idéias ao vivo com gente que pensa como eu e vê a falta de lógica nesse alarmismo idiota que agora é moda, eu já considerava um tema explorado.

Às vezes eu tenho isso. Penso em coisas pra postar por aqui, mas deixo passar algum tempo e aí parece que perde um pouco o sentido, porque já refleti o suficiente sobre o assunto e pra mim ele já é old news.

Mas revi esse vídeo hoje e lembrei de como é bom. Como eu ri a primeira vez (e ri de novo agora) assistindo, pensando em como ele resumiu de forma clara e irônica exatamente o que eu penso. E que bom que o cara tem acesso a um bom público e faz as pessoas refeltirem um pouco e – mesmo que por alguns minutos – repensarem essa postura ridícula de self importance.

A gente sabe que depois a maioria vai recair, porque esse pensamento é reconfortante. Te dá um propósito nobre, em vez de mostrar a sua nulidade. Mas enfim.
Most people can’t handle the truth, já diria o Jack Nicholson.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Prefiro ter um filho viado que um filho despachante

despachante

O causo: a gente precisava de alguns documentos. Mais especificamente, 2 certidões. Troço relativamente simples, mas meio fora de mão pra tirar. Solução? Despachante, ué. Normal. Até aí, tudo bem.

Aí, lá vou eu catar despachante em SP. Coisa mais mole do mundo, né? São Paulo, porra. Não é, sei lá… Muriqui, por exemplo.

Ok. Internet, Google: Milhões de despachantes especializados em multas, carteira de motorista etc. Rodei umas 10 páginas de resultados e nada que não fosse isso. Resolvi ligar pra uma das firmas que achei melhorzinha, e o cara acabou me indicando outra firma que fazia documentos em geral. O cara foi solícito, ainda falou “pode dizer que fui eu que indiquei”.

Aí eu ligo lá na firma, a mulezinha que atende diz que o Sr. Fulano está viajando.
_ Tá, mas eu posso falar com outra pessoa?
_ Orçamento é só com ele. Mas amanhã de manhã ele já está de volta. É só enviar um e-mail que pela manhã a senhora já tem a resposta.

Whatever. Já era umas 17h mesmo, não tinha problema esperar até o dia seguinte. Mandei o e-mail especificando tim tim por tim tim o documento que eu precisava e o prazo que eu tinha.

Manhã seguinte, nada. Liguei, outra promessa que o e-mail logo seria respondido.
Dia seguinte, e nada. À tarde entrei em contato outra vez, já puta da vida, perguntando quanto tempo levaria pra eu receber um orçamento.

A essa altura, o Le por acaso acabou descobrindo uma firma de assessoria em documentos e eu já estava agitando orçamento e prazo de entrega com eles, porque senão eu tava esperando até agora.

Na manhã do terceiro dia me chega um e-mail do primeiro filho da puta perguntando QUAIS DOCUMENTOS EU PRECISAVA.
Cara, a informação estava nos CORNOS dele, na FUÇA. E corno filho de uma vaca me escreve perguntando.
Quer dizer, ele NÃO LEU porra nenhuma do e-mail, certo? COMO que alguém pode trabalhar assim? Aliás, como que alguém pode VIVER assim? Como alguém consegue ser capaz de responder um troço sem antes ler 2 linhas???

Anyway, só de sacanagem eu colei o conteúdo da mensagem original, exatamente da mesma forma. E ainda avisei que as informações constavam da primeira mensagem. E deixei pra lá, que desse mato não ia sair cachorro mesmo.
Dito e feito, o fulano sumiu. Rá, que inesperado.

A outra empresa me atendeu e deu orçamento na hora. Pediu R$ 90 por 2 certidões, e um prazo de 3 dias úteis. Achei justo. Ainda negociei desconto pra 2 cópias de cada, tudo certo.

Eu já tava até achando estranho conseguir o documento sem me aporrinhar. Aí vai a tal firma e me deixa plantada esperando, não cumpre o prazo de entrega. Eita porra, tinha que cagar no final. E nem pra avisar, claro.
Ligo, pago esporro, blá, blá, blá, tenho que aguardar até a segunda-feira seguinte. Pelo menos deu tempo.

Aí, já com os documentos em mãos, pagamento efetuado, tudo resolvido, recebo um e-mail do tal zé ruela da primeira firma, me dando um orçamento de 660 reais, pra apenas UMA cópia de cada certidão, e prazo de 7 dias úteis.

HAHAHAHAAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHA

Só rindo mesmo…

sábado, 10 de abril de 2010

Não é humor negro… É?

Hoje, abrindo meu ovo de páscoa (vejam vcs, ganhei no sábado passado e fui abrir só hoje, uma semana depois. Tô orgulhosa de mim mesma), lembrei de um episódio deprimente, ocorrido há uns 20 e poucos anos atrás.

Tô eu no colégio, segunda-feira depois da semana santa. Olho pra menina que sentava à minha frente, que normalmente ia bem largadinha pra aula e penso “ih, Fulana hoje veio toda arrumadinha”.

O cabelo - que normalmente era desgrenhado - me chamou especialmente a atenção, pois estava preso num penteado elaborado. Daí que eu fui admirar e… Vi que a fita que prendia o cabelo da garota estava estampada com logos da Garoto. Ou seja, era a fita do ovo de páscoa que ela tinha ganhado. Putz.

Daí eu pergunto… PRECISAVA?

Tsc.

domingo, 28 de março de 2010

For you will still be here tomorrow, but your dreams may not

Crédito da imagem: Indo Além

Todo jovem eventualmente recebe conselhos de pessoas mais velhas e sem dúvida pensa “ah, nada a ver, isso era na sua época” ou “comigo vai ser diferente” ou “eu não sou assim” ou “quem sabe o que é melhor pra mim sou eu”.

É uma pena que ele só vá apreciar e valorizar esses conselhos e ensinamentos mais tarde. Em alguns casos, simplesmente tarde demais. Em outros, ainda dá pra fazer algo a respeito, mas o arrependimento fica por conta do tempo perdido. E perdido de bobeira, por ingenuidade (quando não por arrogância).

O Brasil não é um país de oportunidades, é um país de miseráveis. O que é artigo de primeira necessidade já é considerado luxo. Imagina então o resto.
Aqui, ser bom no que se faz não é garantia de nada. Sucesso depende mais de sorte (estar no lugar certo, na hora certa, conhecer as pessoas certas) do que de competência. Porque ainda que existam poucas pessoas realmente capazes, existem ainda menos oportunidades decentes.

Se eu soubesse o que eu sei hoje, jamais teria feito a faculdade que fiz. É burrice, num país como o Brasil, abraçar uma carreira que não seja regularizada. Se as que o são, já são uma zona, imagina uma que nem precisa de diploma pra ser exercida. Brasileiro não dá valor a serviço. Ele também mal dá valor a produtos, mas pelo menos os valoriza um pouco mais. É algo que ele entende, que ele pode pegar na mão, sentir o peso, imaginar o custo do material e da produção. Mas serviço, esforço, talento, criatividade, valor do tempo empregado, custos indiretos? São coisas que o brasileiro não compreende e não respeita.
Isso só piora com o fato de qualquer um poder bater no peito e dizer que faz o mesmo que vc, mesmo não tendo estudado, sem ter o menor talento, nem saber o básico. Nivela a profissão por baixo, desvaloriza o trabalho.

A segunda burrice foi tentar (e principalmente, COMEÇAR) a carreira de forma independente, como empresária, em vez de contratada em um lugar qualquer. Se jogar no vácuo assim sem antes fazer contatos no meio, sem ter nem uma potencial cartela de clientes, foi mais que burrice. Foi loucura. Sem ter ninguém conhecido na área, ficar esperando que clientes caíssem do céu, sem saber como vender um serviço não solicitado a alguém que não te conhece… Deus, só sendo jovem mesmo pra não ter a exata noção de como isso é arriscado e estúpido. É aquele negócio: fazer odonto tendo pai dentista é uma coisa. Fazer odonto na careta, sem grana pra montar consultório, é outra.

O começo deu errado (é aqui que vc já-não-mais-tão-jovem olha e fala “nossa, jura?” rs)  e, entre vários problemas – entre eles uma depressão que durou muitos anos – eu me perdi. As coisas, até por questão de necessidade, enveredaram por um caminho que me desanimou (odeio, odeio web).
Curiosamente, no meio disso tudo eu me animei com um projeto específico e improvável e, apesar das circunstâncias, tive sucesso. O tal do “hora certa no lugar certo”, aliado à competência.

É, deu certo. Mas os frutos se escoaram no ralo de dívidas remanescentes da época de fracasso e de projetos em companhia de gente incompetente e irresponsável.
Engraçado que a maior mágoa que ficou desse período foi a viagem que eu queria fazer e não fiz. Era simples, era possível, era a recompensa, era a forma de aproveitar, era a única coisa que podia ser boa em muito tempo, depois de tanta privação. Mas… Não era pra ser. Por motivo nenhum, por nada, só por falta de boa vontade mesmo. Mas não era. Paciência.

Daí, como se isso não fosse o bastante, eu mudei minha vida. Toda. Ou quase. A única coisa que eu não mudei foi a profissão. Tive a pachorra de começar de novo, com mais de 30 anos. Não muito mais amparada do que antes, se dá pra acreditar. Com mais experiência, com certeza, mas com o mesmo tanto de clientes. rs.
Dessa vez eu não excluí caminho nenhum, considerei todos. E experimentei todos. Freela, inciativa privada. Ganhei ainda mais experiência, um puta portfólio (que nunca atualizo, mas enfim), confiança, e elogios por onde passei e pra quem trabalhei.
E aí eu vi que, apesar de ter curtido bastante fazer alguns trabalhos, eu na verdade não gosto da minha profissão. Vi que a parte realmente gostosa, a criação, é a que leva menos tempo, consome menos esforço, e corresponde a no máximo 10% do trabalho. O resto é aporrinhação, prazos insanos, invasão do meu tempo livre, negociação, revisão, cobrança, ficar de babá do trabalho dos outros, etc.

Como dizem por aí, nada melhor pra tirar a graça do que vc gosta do que transformar isso em trabalho. Trabalho é obrigação, não lazer. Então, whatever. Que pague bem, que tome o mínimo de tempo livre e dê o mínimo de aporrinhação. Quanto melhor o equilíbrio entre esses 3 requisitos, melhor o trabalho. Se paga MUITO, vc aguenta um tanto de aporrinhação. Se aporrinha demais e toma muito tempo livre, talvez mesmo por muito dinheiro não valha a pena.

Olhando pra trás, eu vejo o quanto de idealismo infantil me fez seguir esse caminho e descartar os conselhos do meu pai. Eu era ingênua e romântica e achava que “fazer aquilo que se ama” era mais nobre, era mais digno, tinha mais valor. Pfffffff, quanta besteira.
Hoje, que eu tenho nojinho desse idealismo moloide, é que eu vejo que não há nobreza nenhuma em ficar aturando cliente tentando reduzir seu preço como quem negocia em xepa de feira. Que fazer um trabalho que vc SABE que é horroroso só porque está recebendo pra isso, não te faz mais digno do que qualquer outra pessoa que vai pro emprego fazer o que tem que fazer e pronto. E que o seu trabalho tem o valor que vc recebe por ele, tanto faz se vc o ama ou se caga e anda pra ele.

Triste de quem se define pelo trabalho que faz, de quem precisa desempenhar uma função específica pra saber quem é e o valor que tem.

Então, que diferença faz? Mais vale aproveitar a melhor equação. E eu tenho que concordar que trabalhar de 9 às 6, sem hora extra, sem cliente pechinchando, sem se preocupar em levar calote nem em receber atrasado, sem ficar à mercê de humor de chefe maluco e crise financeira, com férias e décimo terceiro, financiamento pré-aprovado, plano de saúde e aposentadoria integral, e ganhando BEM, é uma equação vantajosa, que merece respeito.

Anyway, eu não escrevi isso pra decidir nada. E sim porque agora eu não só reconheço que meu pai estava certo, como imagino a agonia que ele deve ter passado assistindo às minhas cabeçadas, enquanto deixava eu seguir meu caminho e me apoiava do jeito que podia. E porque eu sei que eu POSSO decidir o que eu quiser, se eu quiser, sem medo de estar perdendo nada.
Talvez fosse desse processo que eu precisava. Fazer as coisas sozinha, me sentir capaz e saber que eu sou uma das boas naquilo que escolho fazer. Seja o que for.
Agradeço a vida que eu tenho, que me dá a oportunidade de poder tomar esse tipo de decisão. Conscientemente, sabendo que tenho apoio. Tem gente que não pode se dar ao luxo.

Agradeço também ter amadurecido e perdido o orgulho cego e imaturo e ganhado serenidade e um pouco de sabedoria. Normalmente essas coisas vêm com a idade, mas nem sempre.

terça-feira, 23 de março de 2010

A arte perdida de xingar no trânsito

mr_wheeler

Tem tempo que eu não xingo ninguém no trânsito. Sinto falta. Infelizmente, hoje em dia a violência torna isso uma atividade perigosa. Como 2 em cada 3 pessoas são marginais (estatística séria do BIS), é óbvio que só se deve andar de vidro fechado. Então, além de a tarefa de abrir o vidro (como se abre vidro elétrico correndo?) atrapalhar todo o timing e tirar o impacto da xingada, o risco de vc ser morto ou espancado é muito grande.
É uma pena… Na minha época as pessoas podiam xingar e serem xingadas em paz e harmonia. Bons tempos.

Como o engarrafamento por aqui (Sampa) é muito escroto, os motoristas acabam fazendo menos barbeiragem no trânsito.
Isso não quer dizer que paulistas dirigem melhor que cariocas. O fato é que paulistas têm menos espaço para fazerem merda (PRINCIPALMENTE os motoristas de ônibus, que eu considero o pior problema do trânsito do Rio. Aqui em SP eles ficam confinados à faixa de ônibus, e a gente nem toma conhecimento. Menos mal).

Sabe aquela piada:
“Por que a galinha atrevessou a Rua?
R: Pra chegar do outro lado”?

É mais ou menos por aí. Se vc se pergunta “por que carioca sai costurando e trocando de pista?”, a resposta é “porque pode”.
O paulista bem que gostaria mas, se tentar fazer isso, vai passar por cima de pelo menos uns 3 motoboys, ser atacado por uma horda deles e, na sequência, ser linchado. Então aqui em SP, devido à pena informal de morte, não se troca de pista. Até mesmo quando vc precisa, muitas vezes não tem como. Se vc dá seta, os motoboys saem de seus caminhos só para te atrapalhar.

Uma vez eu levei uma fechada absurda de um exemplar dessa sub espécie e, de dentro do carro, com a janela fechada, ousei reclamar. O bandido arrombado viu e, se sentindo ofendido com o fato de eu não ter tomado na bunda quieta mesmo sem ter feito nada errado, quebrou meu espelho. Assim, just because. O meu consolo é que a esta altura, provavelmente ele ja virou paçoca em algum asfalto por aí.

But I digress. Voltando:

Então, vc não pode xingar motoboys e ter esperança de viver pra ver o dia seguinte. E pelos motivos supracitados, o resto do trânsito de São Paulo é super boring. Um bando de gente que também não sabe dirigir, andando em primeira e segunda, e que adora parar em sinal amarelo e ficar que nem idiota esperando ele fechar (ódio, ódio MORTAL).

Sim, ainda tem muita merda sendo feita. Cruzamentos fechados, gente que enfia a seta no cu e esquece de tirar na hora de sinalizar, murrinhas que conseguem andar mais devagar que o engarrafamento e atrapalhar mais ainda o fluxo, etc.
Eu até podia xingar esses (principalmente o tipo parador-compulsivo-de-sinal-amarelo). Mas que graça tem? Vou xingar e depois ter que ficar parada, olhando pra cara dos paspalhos. Frustrante.

en_passant
Legal era xingar en passant, escolher palavras sonoras e de sílabas curtas, acertando o timing e deixando os insultos traçando o caminho no vento, enquanto via, de vez em quando, um dedo em riste pelo retrovisor.

orangotango_dedo

As pessoas não interagem mais, sabe.

domingo, 14 de março de 2010

Show = estresse

Hoje o twitter tava fervendo com o show do Guns aqui em São Paulo. Fiquei vendo as meninas de 20 e poucos anos fazendo estardalhaço por causa do Axl, e pensei “poxa, que legal, devia ter ido também, queria estar lá”. Pra imediatamente depois pensar “não, mentira. Não queria não”.

E não queria mesmo.

São vários os motivos, na verdade.

Especificamente no caso do Guns, primeiro: porra, Chinese Democracy?? Sifudê, né? Foda é Appetite, Lies… E uma “meia dúzia de 3” músicas dos Use Your Illusion. O resto é encheção de linguiça.
Segundo que o Guns não é mais o Guns. Tem até um guitarrista EMO, caralho (Slash deve dar risada). E o Axl tá parecendo uma tia velha plastificada. Se ele estivesse só velho, careca e gordo, eu ainda podia relevar. Mas Repuxado e com trancinha rasta fica foda. Mas acho graça das menininhas tendo ataque pelo que sobrou do cara lindão que ele era (homens, não façam plástica please. Envelheçam como o Clint Eastwood, não como o Cauby Peixoto, ok?).

Mas, indo mais longe, o fato é que show é uma merda. Sempre. QUALQUER show. Mesmo quando é bom, é ruim:

  • Não adianta, pode ser o lugar mais moderno e cheio de frescura, música ao vivo SUCKS. Pra começar, o som é SEMPRE um cu. E quando a banda não resolve mudar a porra da música que vc gosta, pelo menos metade da música quem canta é o público (vc tá pagando pra ouvir quem cantar?). E normalmente tem uns 30% de músicas merdas enfiadas no meio da seleção.
  • Vc vai se aborrecer com alguém. Batata. Brasileiro é mal educado, mesmo os ricos. Acesso a lugares caros não te garantem nada, a não ser o fato de que vc vai gastar mais dinheiro. Nego vai ficar em pé na sua frente, ou pegar seu lugar, o guardador vai ameaçar arranhar seu carro, alguém vai fumar na sua cara, talvez te roubem alguma coisa. Prepare-se.
  • Se o show é de pista, vc não vai ter o que beber, não vai ter onde mijar, não vai ver nada (haha, vai ter que ir ao show pra ficar olhando o telão), vai rolar uma briga do seu lado, vão vomitar do seu lado e COM CERTEZA vão te roubar alguma coisa. Prepare-se.

Isso dito, existe algo de estar no show que é legal. Tipos… É tudo uma merda (vc estaria melhor em casa vendo o show pela TV ou mesmo ouvindo um CD), mas é legal.
Talvez seja apenas aquela coisa de poder dizer “eu fui no show do Fulano” pros seus filhos/netos/amigos/wahetever.
E, depois que passa, vc não lembra que foi uma merda. Vc guarda uma lembrança editada e imaginária de que foi legal pra caralho – UHUL! - se acha super rocker e coisa e tal.

Então, é questão de pesar os prós e os contras e ver o que é mais importante pra vc. Pra mim, um dia o estresse já valeu a pena de guardar uma lembrança bacana (que eu sei que é auto ilusão). Hoje eu sinceramente não tenho mais saco pique pra essas coisas. Foda-se o Axl (ou quem quer que seja) e a aporrinhação de ter que encarar multidão pra ouvir som meia boca.

Como a graça de ir aos shows é poder se gabar, eis minha listinha de presença:

  • Guns N’ Roses (Rock in Rio II. Teve confusão do lado de dentro do estádio e eu quase apanhei da polícia montada no primeiro dia de show, não consegui entrar. Tive que voltar no segundo dia, e aí roubaram minha carteira)
  • Madonna (passei uma sede do cacete e não vi nada. E a seleção de músicas foi uma merda)
  • Santana (as músicas são bacanas, mas… Ao vivo, né. Blé)
  • INXS (assisti porque veio depois do Santana)
  • Paul McCartney (show mais sem graça ever)
  • Skid Row (na Apoteose. Estresse pra chegar, estacionar, lugares com visibilidade de merda. Mas foi bacana)
  • Extreme (idem ao Skid Row)
  • BB King (ok)
  • Little Richard (No teatro de Remo da Lagoa, som tava uma tremenda merda. Mas divertido)
  • Chuck Berry (idem)
  • Creedence Clearwater Revival (2 vacas barraqueiras que compraram assentos mais baratinhos na parte de trás da mesa na fila de baixo botaram a cadeira na frente da minha, primeira da mesa na fila de cima, e atrapalharam minha visão. O pessoal da casa de show ligou o foda-se e ficou por isso mesmo).
  • RPM (rs) (achei bacana, mas eu tinha uns 14 anos)
  • Blitz (2X) (divertido)
  • Lobão (civilizado. Mas tava vazio)
  • Barão (ok)
  • Ney Matogrosso (eu era pequena, só lembro dele de bunda de fora, hahaha)
  • Fernanda Abreu (idem ao Skid Row)
  • Caetano (uma merda, só músicas desconhecidas e toscas. Saí puta da vida)
  • Benjor (2X) (simplesmente THE BEST. Melhor show de todos, desde a seleção de músicas, até o som e a simpatia e performance no palco)

Fiz esse post porque tinha colocado a listinha no twitter, depois de uma amiga colocar a dela. Achei um registro legal (tive que pensar pra lembrar de tudo, e ainda acho que esqueci alguma coisa), então vou deixar arquivado aqui.

Além disso, quando eu tiver vontade de ir a um show, é uma boa idéia ter algo pra ler e fazer a vontade passar.

Pra ilustrar, fica o registro de Sweet Child O’ Mine do show do Guns em Brasilia. Triste…

sábado, 6 de março de 2010

Well well well

As pessoas têm certas necessidades que eu acho muito esquisitas. Até posso entender a curiosidade, a vontade de caçar fofocas, etc. É mesquinho, mas é normal.
Mas a necessidade de fazer contato – mesmo que indireto – e de se fazer notar por alguém que te despreza e nem lembra que vc existe?

O que será que leva alguém a precisar disso? Culpa, consicência pesada? Busca por absolvição?
Será que ouvir de um completo desconhecido (ou um antigo conhecido) um “Ahm… Oi, tudo bem?” motivado puramente por educação, faz a pessoa achar que o que ela fez talvez não tenha sido tão ruim assim?
Deve ser muito insatisfatório ter que buscar essa expiação em pequenos contatos insignificantes com estranhos.

Por mais que a pessoa minta para si mesma, no fundo ela SABE que isso não absolve nada, não acalma consciência nenhuma, não reescreve a história. Ela vai sempre sentir aquela dorzinha e, de vez em quando, quando a dorzinha cutucar um pouco mais, ela vai tentar de novo. E vai ganhar uma mentirinha branca, um “como vai” polido, e nesse dia talvez ela durma melhor. Até começar tudo de novo…

Certas rupturas são mesmo pra SEMPRE. Só quem é maduro consegue aceitar esse fato e viver bem com ele. E só quem é honrado consegue cumprir suas obrigações e manter sua palavra, mesmo quando isso não é agradável.
Quem não amadurece, passa a vida mentindo pra si mesmo e buscando atalhos milagrosos. Tão triste quanto verdadeiro.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Da etiqueta das orgias romanas

quadro

Viver em sociedade é relativamente complicado/trabalhoso, certo? Vc tem que seguir certas regras, ser um tanto hipócrita, político, etc. Tem que ser solícito com o chefe, simpático com os vizinhos, não descontar o mau humor na família… Essas coisas.

Daí que outro dia estava eu aqui pensando (pensamentos cretinos SEMPRE me ocorrem durante o banho): como era essa questão da etiqueta durante as orgias romanas???? Puta troço delicado, hein?

Quando um ou outro punheteiro sonhador lê a palavra “orgia”, já se anima todo, acha o maior barato e se imagina no meio de 5 gostosas dividindo seu membro a tapas. Mas a verdade (imagino eu) é que o troço deve ser um pouco mais complicado.

Vamos considerar, para fins de argumentação, que para os membros da alta sociedade romana as orgias fossem uma atividade social corriqueira (eu vi Calígula e era assim, ok?).
É uma reuniãozinha íntima, mas nada do que se envergonhar – afinal, todo mundo faz. Vc chama os amigos, uns colegas de trabalho, de repente até uns primos. Beleza.

Obviamente, é preciso ter as instalações necessárias. Galera vai ter que transar em camas, sofás, divãs, colchões, ou algo assim. Mesmo que seja no chão (aí já começou a ficar meio esculhambado, mas tudo bem), são necessários no mínimo uns lençóis bacanas, né? E precisa ter espaço.
E comida. Porque vou te contar, esse povo comia, viu. Mesmo em meio à fudelança, tinha que rolar um banquete e tals.

mesa

Agora imagina a pobre da anfitriã romana, coitada, cuidando dos preparativos da suruba. Tem que mandar matar os leitões e comprar frutas frescas, polir a prataria, supervisionar a arrumação do cômodo com tapeçarias e lençois limpos e fartos, chamar escravos extras, dar um briefing pra cada um sobre seus afazeres (quem vai servir comida, quem vai abanar os convidados, etc), providenciar um lugar pros convidados deixarem as roupas e sapatos, etc. São muitos detalhes!

Na minha imaginação, a orgia era uma reuniãozinha normal, saca? Mais ou menos como… Sei lá, um poker na casa de amigos. Fico imaginando o marido chegando em casa e dizendo:
_  Querida, chamei um pessoal pra vir aqui amanhã, tudo bem?
E a esposa surtando:
_ Mas de novo? Por que é SEMPRE aqui em casa? E vc me avisa em cima da hora, Lucius Flavius? Sabe que eu tenho que bater os tapetes, mandar as crianças pra casa da mamãe… E eu acabei de dar o fim de semana de folga pro eunuco! Podia me avisar com antecedência, né?
Enfim.

Daí eu pulo pra parte dos convidados chegando, socializando, até a farra começar. As apresentações, aquelas conversas de quem não se conhece e fica só fazendo sala, sabe?
_ Vc é amigo do Fulano há muito tempo?
_ Ah sim, nós éramos da equipe de Luta Romana no colégio. E vc?
_ Nos conhecemos outro dia, em uma orgia na casa da Fulana.
_ Pô, legal!
_ …

Imagino também aquela coisa típica de começo de festa… Sabe quando todo mundo fica esperando pra alguém começar a dançar, porque ninguém quer ser o primeiro? Então. Meio constrangedor e tal. Até que alguém finalmente começa a sacanagem, e o resto vai atrás, né.

Uma vez começado o bacanal, a coisa fica ainda mais complicada. Pensa só no mundo de coisas que podem dar errado:

1. Tá todo mundo lá, maior zona e tal, mó galera se deu bem com as vagabundas ninfetas bonitas. Aí chega a dona da casa que é a maior baranga, tirando o carinha pra… Er… Copular. O cara vai fazer o quê? Dizer “valeu, tia, mas eu tô na de fora”? Porra, é muita desfeita! Tá fudido, vai ter que encarar, não vai ter jeito.

2. E se alguém broxar lá no meio? Humilhação pública. Não é algo que vá ficar entre quatro paredes, todo mundo vai saber quem é o broxa. Lamentável, e provavelmente o fim da vida social surubística do indivíduo.

3. Caras de pinto pequeno provavelmente não participavam de bacanais. Ou se privavam desse prazer coletivo, ou provavelmente tinham que aturar as gozações, apelidos e comparações. Dignidade zero.

4. Há ainda a questão da higiene. A gente pode até supor que bom senso seria o suficiente para evitar situações desagradáveis, mas vai saber, né. Nem vou elaborar o tema porque… Ew.

E, por último, resta a tarefa de arrumar a casa, né? Todo mundo que imagina a orgia, acha que no final é só botar a roupa e ir pra casa.
Mas e pros anfitriões, como fica? Resta botar ordem na zona, coitados. Mandar lavar lençóis (ew²), toalhas, guardar as sobras… Sendo que naquela época não tinha lava-roupas nem geladeira.

Não devia ser mole não.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A tal da barba por fazer


Moda, estilo, tendência e coisa e tal. Tá, eu entendo. Eu sou designer, amo tudo que é visual, valorizo a estética.
E sim, claro que eu sofro influência do padrão de beleza da minha geração. Por mais babaca que possa ser às vezes (tipos, mulher sem cintura é feio, mas hoje nego paga pau, então tá), muito dele acaba entranhando no nosso "gosto" e a gente nem percebe.

Pra quem é mais novo, esse processo é mais invasivo. Acho que a garotada acaba com o cérebro meio lavado mesmo, sei lá. Quando vc é formado no meio desse padrão, fica difícil sair.

Mas quando eu era mais nova (sentiram que eu já tô numa de "na minha época..."), não tinha essa de globalização, internet, silicone, lipo, TV a cabo, etc. Cada povo tinha um padrão de beleza próprio, que era mais ou menos condizente com suas características étnicas, o modo de vida local, e pá. E, quando aparecia alguma beleza fora do padrão, ela era admirada justamente por isso, pelo aspecto "exótico".
Tinha menina bonita que era peituda, e menina bonita despeitada. E a galera que gostava tanto de uma coisa quanto de outra. Ou das duas, em alguns casos. Hoje, ou a menina é peituda ou ela é uma pária e pode muito bem se matar.

Bom, toda essa intro ranzinza e saudosista é pra dizer o seguinte: tem modinhas que me irritam. Muito.
[Nota: quando eu falo que certas coisas me irritam MUITO (exemplo: Faustão falando "ô loco, meu, brincadeira"), eu não tô zoando. Tenho certeza de que altera até minha pressão, e se alguém me der uma arma nessa hora eu mato alguma coisa. Qualquer coisa.]

Enfim, voltando: certas modinhas me irritam. Uma delas é a tal da barba por fazer.

Tá, não me levem a mal. De vez em quando é legal, né. O cara fica com uma puta cara de macho provedor e tal, uma coisa assim meio tenho-muito-hormônio-sou-viril-meio-grosso-e-te-pego-na-unha. Às vezes eu curto.

Mas cara, tem que ter bom senso. Se exagerar, fica caricato. E aí passa a impressão só de porquice e desleixo mesmo. Ou o contrário: a impressão de que o cara é tão viadinho metrossexual que fica todo dia aparando aquela merda com um aparelhinho especial que deixa sempre na mesma altura. Patético.

Daí que eu reparo nesses detalhes irritantes, que acabam atrapalhando (mesmo que levemente) algumas coisas que eu gosto.

Por exemplo: LOST.
Alguém me explica COMO galère que tá há sei lá quantos meses numa porra de ilha fica ETERNAMENTE com 2mm de barba??
Eu entenderia se o cara ficasse barbudo. Ou se o cara às vezes fizesse a barba, e às vezes ficasse com preguiça e deixasse crescer um pouco.
Mas maluco, a barba tá sempre I-G-U-A-L. Foda isso.

Aí que nas férias eu fui ver Sherlock Holmes. Sim, eu já sabia que ia ser uma palhaçada releitura. Já sabia que o Sherlock seria uma mistura de Dr. House com Chuck Norris. Já tava com pena do Conan Doyle. Mas... Nhé. What the hell. Fui assim mesmo.


Sentiram o cabelo trabalhado na mousse?


Bom, o filme é muito fraquinho. O diretor, claro, cuspiu no túmulo do autor e chamou a mãe dele de coxinha. E eu adoro o Downey Jr, mas ele tá cagado nesse papel. Bem ruinzinho mesmo.

A merda é que, mesmo esperando um personagem mais pitboy e sarcasticuzinho (heh), eu achei que iam respeitar pelo menos os figurinos/padrões da época. E quando eu olho, tá lá o feladaputa de barba por fazer. O FILME TODO, CARALHO.
Sacanagem.


Amigo, o Sherlock Holmes - que nos livros era um cara metódico, asseado, formal, fleumático (resumindo: inglês) - do filme anda todo mulambento.
Acorda sujo e vai com a camisa dormida e babada pra rua, usa roupa amassada/manchada, não penteia o cabelo. Quase dá pra sentir o cheiro de bunda mal lavada da cueca freada que ele deve estar usando pelo segundo dia seguido, do avesso. Com certeza é o tipo de pessoa que não escova os dentes. E (surprise, surprise!) nunca - NUNCA! - se barbeia.

No século XIX, um cara andando assim na rua com certeza tomaria uns cascudos da polícia, ou uma cusparada pela janela do primeiro upper-class twit que passasse por ele de carruagem.
Imagina se alguém um dia ia parar para sequer ouvir o que ele tinha a dizer. Ainda mais levar a sério. Pfff.


Ou seja: de um nerd/gênio inglês, o Sherlock Holmes virou um babacão americano mal humorado e marrentinho de higiene pessoal duvidosa.

Maldito padrão. Maldita barba por fazer.