terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Da etiqueta das orgias romanas

quadro

Viver em sociedade é relativamente complicado/trabalhoso, certo? Vc tem que seguir certas regras, ser um tanto hipócrita, político, etc. Tem que ser solícito com o chefe, simpático com os vizinhos, não descontar o mau humor na família… Essas coisas.

Daí que outro dia estava eu aqui pensando (pensamentos cretinos SEMPRE me ocorrem durante o banho): como era essa questão da etiqueta durante as orgias romanas???? Puta troço delicado, hein?

Quando um ou outro punheteiro sonhador lê a palavra “orgia”, já se anima todo, acha o maior barato e se imagina no meio de 5 gostosas dividindo seu membro a tapas. Mas a verdade (imagino eu) é que o troço deve ser um pouco mais complicado.

Vamos considerar, para fins de argumentação, que para os membros da alta sociedade romana as orgias fossem uma atividade social corriqueira (eu vi Calígula e era assim, ok?).
É uma reuniãozinha íntima, mas nada do que se envergonhar – afinal, todo mundo faz. Vc chama os amigos, uns colegas de trabalho, de repente até uns primos. Beleza.

Obviamente, é preciso ter as instalações necessárias. Galera vai ter que transar em camas, sofás, divãs, colchões, ou algo assim. Mesmo que seja no chão (aí já começou a ficar meio esculhambado, mas tudo bem), são necessários no mínimo uns lençóis bacanas, né? E precisa ter espaço.
E comida. Porque vou te contar, esse povo comia, viu. Mesmo em meio à fudelança, tinha que rolar um banquete e tals.

mesa

Agora imagina a pobre da anfitriã romana, coitada, cuidando dos preparativos da suruba. Tem que mandar matar os leitões e comprar frutas frescas, polir a prataria, supervisionar a arrumação do cômodo com tapeçarias e lençois limpos e fartos, chamar escravos extras, dar um briefing pra cada um sobre seus afazeres (quem vai servir comida, quem vai abanar os convidados, etc), providenciar um lugar pros convidados deixarem as roupas e sapatos, etc. São muitos detalhes!

Na minha imaginação, a orgia era uma reuniãozinha normal, saca? Mais ou menos como… Sei lá, um poker na casa de amigos. Fico imaginando o marido chegando em casa e dizendo:
_  Querida, chamei um pessoal pra vir aqui amanhã, tudo bem?
E a esposa surtando:
_ Mas de novo? Por que é SEMPRE aqui em casa? E vc me avisa em cima da hora, Lucius Flavius? Sabe que eu tenho que bater os tapetes, mandar as crianças pra casa da mamãe… E eu acabei de dar o fim de semana de folga pro eunuco! Podia me avisar com antecedência, né?
Enfim.

Daí eu pulo pra parte dos convidados chegando, socializando, até a farra começar. As apresentações, aquelas conversas de quem não se conhece e fica só fazendo sala, sabe?
_ Vc é amigo do Fulano há muito tempo?
_ Ah sim, nós éramos da equipe de Luta Romana no colégio. E vc?
_ Nos conhecemos outro dia, em uma orgia na casa da Fulana.
_ Pô, legal!
_ …

Imagino também aquela coisa típica de começo de festa… Sabe quando todo mundo fica esperando pra alguém começar a dançar, porque ninguém quer ser o primeiro? Então. Meio constrangedor e tal. Até que alguém finalmente começa a sacanagem, e o resto vai atrás, né.

Uma vez começado o bacanal, a coisa fica ainda mais complicada. Pensa só no mundo de coisas que podem dar errado:

1. Tá todo mundo lá, maior zona e tal, mó galera se deu bem com as vagabundas ninfetas bonitas. Aí chega a dona da casa que é a maior baranga, tirando o carinha pra… Er… Copular. O cara vai fazer o quê? Dizer “valeu, tia, mas eu tô na de fora”? Porra, é muita desfeita! Tá fudido, vai ter que encarar, não vai ter jeito.

2. E se alguém broxar lá no meio? Humilhação pública. Não é algo que vá ficar entre quatro paredes, todo mundo vai saber quem é o broxa. Lamentável, e provavelmente o fim da vida social surubística do indivíduo.

3. Caras de pinto pequeno provavelmente não participavam de bacanais. Ou se privavam desse prazer coletivo, ou provavelmente tinham que aturar as gozações, apelidos e comparações. Dignidade zero.

4. Há ainda a questão da higiene. A gente pode até supor que bom senso seria o suficiente para evitar situações desagradáveis, mas vai saber, né. Nem vou elaborar o tema porque… Ew.

E, por último, resta a tarefa de arrumar a casa, né? Todo mundo que imagina a orgia, acha que no final é só botar a roupa e ir pra casa.
Mas e pros anfitriões, como fica? Resta botar ordem na zona, coitados. Mandar lavar lençóis (ew²), toalhas, guardar as sobras… Sendo que naquela época não tinha lava-roupas nem geladeira.

Não devia ser mole não.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A tal da barba por fazer


Moda, estilo, tendência e coisa e tal. Tá, eu entendo. Eu sou designer, amo tudo que é visual, valorizo a estética.
E sim, claro que eu sofro influência do padrão de beleza da minha geração. Por mais babaca que possa ser às vezes (tipos, mulher sem cintura é feio, mas hoje nego paga pau, então tá), muito dele acaba entranhando no nosso "gosto" e a gente nem percebe.

Pra quem é mais novo, esse processo é mais invasivo. Acho que a garotada acaba com o cérebro meio lavado mesmo, sei lá. Quando vc é formado no meio desse padrão, fica difícil sair.

Mas quando eu era mais nova (sentiram que eu já tô numa de "na minha época..."), não tinha essa de globalização, internet, silicone, lipo, TV a cabo, etc. Cada povo tinha um padrão de beleza próprio, que era mais ou menos condizente com suas características étnicas, o modo de vida local, e pá. E, quando aparecia alguma beleza fora do padrão, ela era admirada justamente por isso, pelo aspecto "exótico".
Tinha menina bonita que era peituda, e menina bonita despeitada. E a galera que gostava tanto de uma coisa quanto de outra. Ou das duas, em alguns casos. Hoje, ou a menina é peituda ou ela é uma pária e pode muito bem se matar.

Bom, toda essa intro ranzinza e saudosista é pra dizer o seguinte: tem modinhas que me irritam. Muito.
[Nota: quando eu falo que certas coisas me irritam MUITO (exemplo: Faustão falando "ô loco, meu, brincadeira"), eu não tô zoando. Tenho certeza de que altera até minha pressão, e se alguém me der uma arma nessa hora eu mato alguma coisa. Qualquer coisa.]

Enfim, voltando: certas modinhas me irritam. Uma delas é a tal da barba por fazer.

Tá, não me levem a mal. De vez em quando é legal, né. O cara fica com uma puta cara de macho provedor e tal, uma coisa assim meio tenho-muito-hormônio-sou-viril-meio-grosso-e-te-pego-na-unha. Às vezes eu curto.

Mas cara, tem que ter bom senso. Se exagerar, fica caricato. E aí passa a impressão só de porquice e desleixo mesmo. Ou o contrário: a impressão de que o cara é tão viadinho metrossexual que fica todo dia aparando aquela merda com um aparelhinho especial que deixa sempre na mesma altura. Patético.

Daí que eu reparo nesses detalhes irritantes, que acabam atrapalhando (mesmo que levemente) algumas coisas que eu gosto.

Por exemplo: LOST.
Alguém me explica COMO galère que tá há sei lá quantos meses numa porra de ilha fica ETERNAMENTE com 2mm de barba??
Eu entenderia se o cara ficasse barbudo. Ou se o cara às vezes fizesse a barba, e às vezes ficasse com preguiça e deixasse crescer um pouco.
Mas maluco, a barba tá sempre I-G-U-A-L. Foda isso.

Aí que nas férias eu fui ver Sherlock Holmes. Sim, eu já sabia que ia ser uma palhaçada releitura. Já sabia que o Sherlock seria uma mistura de Dr. House com Chuck Norris. Já tava com pena do Conan Doyle. Mas... Nhé. What the hell. Fui assim mesmo.


Sentiram o cabelo trabalhado na mousse?


Bom, o filme é muito fraquinho. O diretor, claro, cuspiu no túmulo do autor e chamou a mãe dele de coxinha. E eu adoro o Downey Jr, mas ele tá cagado nesse papel. Bem ruinzinho mesmo.

A merda é que, mesmo esperando um personagem mais pitboy e sarcasticuzinho (heh), eu achei que iam respeitar pelo menos os figurinos/padrões da época. E quando eu olho, tá lá o feladaputa de barba por fazer. O FILME TODO, CARALHO.
Sacanagem.


Amigo, o Sherlock Holmes - que nos livros era um cara metódico, asseado, formal, fleumático (resumindo: inglês) - do filme anda todo mulambento.
Acorda sujo e vai com a camisa dormida e babada pra rua, usa roupa amassada/manchada, não penteia o cabelo. Quase dá pra sentir o cheiro de bunda mal lavada da cueca freada que ele deve estar usando pelo segundo dia seguido, do avesso. Com certeza é o tipo de pessoa que não escova os dentes. E (surprise, surprise!) nunca - NUNCA! - se barbeia.

No século XIX, um cara andando assim na rua com certeza tomaria uns cascudos da polícia, ou uma cusparada pela janela do primeiro upper-class twit que passasse por ele de carruagem.
Imagina se alguém um dia ia parar para sequer ouvir o que ele tinha a dizer. Ainda mais levar a sério. Pfff.


Ou seja: de um nerd/gênio inglês, o Sherlock Holmes virou um babacão americano mal humorado e marrentinho de higiene pessoal duvidosa.

Maldito padrão. Maldita barba por fazer.