segunda-feira, 26 de março de 2012

Tirando a poeira - reflexões

O blog tá paradinho há tanto tempo, que eu resolvi escrever para tirar a poeira. Nem tenho nada para dizer, na verdade. Posso dizer o que estou sentindo agora, numa madrugada de domingo. E que eu descreveria com uma palavra: contentamento.

A vida é feita de vários momentos, e a gente pega o jeito de ser feliz quando aprende a valorizar os momentos bons, e deixar ir embora os ruins. E eu acho que finalmente peguei o jeito. :)

Quando eu era mais nova, os momentos ruins me incomodavam muito. Acho que isso é típico da juventude, que quer viver tudo muito rápido, e tem dificuldade de esperar e de controlar a ansiedade.
Eu ainda sou ansiosa, mas consigo controlar melhor. E definitivamente aproveito mais as coisas boas.

Hoje eu até gosto de coisas que me irritavam, quem poderia imaginar?
Adoro cozinhar e ver um monte de ingredientes desconexos virar algo gostoso, de acordar cedo e ter um dia produtivo, gosto de várias comidas para as quais torcia o nariz (legumes e sushi, para citar algumas), adoro ficar em casa nos fins de semana, evitando trânsito e lugares apinhados. Adoro São Paulo (coisa que eu jamais adivinharia, hahaha), se eu pudesse trazia a família toda pra morar aqui e passar apenas as férias no Rio. Gosto de fazer compras no supermercado, escolhendo os produtos planejando o cardápio da semana. Gosto de cuidar da casa e do carro. Gosto de curtir os amigos que eu fiz aqui (o que mostra que minha antiga crença - a de que só se faz amigos de verdade até uma certa idade - era falsa). Se algo dá errado no meu dia, eu não tenho vontade de morrer por causa disso (antes, era inferno garantido).
E gosto de gatos, haha.

Eu me achava uma "dog person", e hoje penso que tinha um certo preconceito com gatos. Não é que eu não gostasse de gato, né. Eu curto (quase) todos os bichinhos. Mas achava que não era o animal de estimação ideal pra mim, pois a idéia que eu fazia de um gato era de um animal pouco carinhoso, independente demais, desinteressado, etc. A interação mais amorosa/grudenta que na minha cabeça se tinha com um cachorro me parecia mais desejável/divertida.

Agora, com o meu gatinho ronronando no colo enquanto digito, vejo como as pessoas que não têm gato desconhecem esse bichinho. Gatos podem ser tão carinhosos, grudentos e carentes quanto cachorros. Eles brincam da mesma forma. Arranham sua porta 5 minutos antes de o despertador tocar. Te seguem aonde quer que vc vá, mesmo que vc ande apenas 3 metros. Pedem carinho, pedem colo, pedem comida. Gostam de ser acariciados e penteados. O meu até vem quando vc chama, e traz a bolinha de volta pra vc jogar de novo (rsrs).
É, eu gosto de gatos E de cachorros.

Tão bom a gente mudar pra melhor, né? De uma certa forma, eu estou gostando de envelhecer. Apesar dos cabelos brancos e das óbvias mudanças que vêm com a idade, é tão bom a gente sentir essa tranquilidade e esse contentamento com as coisas simples da vida. Não ter aquela angústia, aquele conflito, não perder qualidade de vida por causa de bobagens. Simplesmente feliz com a rotina, com as pessoas e coisas boas na nossa vida.

Eu passei muitos anos da minha juventude em depressão. Muitos mesmo, hoje eu vejo a extensão do problema. E, se eu não tivesse mudado, talvez essa ainda fosse a minha realidade.
Apesar da mudança na minha vida, as mudanças que fizeram diferença vieram de dentro. Na forma como eu VEJO a vida e interajo com ela. Mudar por fora e não mudar por dentro não adianta nada.

É isso. Eu amo meu(s) gato(s), hoje eu fiz pastel de forno de banana (nom nom), a família vai estar reunida no feriadão, o rack novo de temperos ficou o máximo na cozinha, amanhã vou pintar minha parede de verde (oba!), doar uma porção de livros, e daqui a pouco o outono engata e o tempo começa a esfriar...

A vida é boa, hehehe. :)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A melhor forma de ficar louco...

É tentar agradar todo mundo. E ninguém nunca vai conseguir, no máximo vai morrer tentando - e fracassando.

A Lúcia (pessoa querida que trabalhou na casa da minha mãe por mais de 22 anos, se aposentou e continua trabalhando lá de vez em quando, rs) uma vez tava me contando que, no curto espaço de tempo que ela passou bebendo seu caldo de cana recém comprado ao lado da barraquinha, presenciou a sequência de eventos:

Chegou um cliente, tomou o caldo de cana e reclamou com o vendedor:
_ O caldo de cana está quente!
_ Pois não - disse o vendedor. E colocou gelo no caldo de cana.

Chegou o próximo cliente:
_ Nossa, o caldo de cana está muito gelado!
_ Pois não - disse o vendedor. E colocou um pouco de garapa no caldo de cana.

Chegou o próximo cliente:
_ Esse caldo de cana está muito forte, moço.
_ Pois não - disse o vendedor. E colocou água gelada no caldo de cana.

Chegou o próximo cliente:
_ O caldo de cana está aguado!
_ Pois não - disse o vendedor. E colocou um pouco mais de garapa no caldo de cana.

Chegou o próximo cliente:
_ Moço, o caldo de cana está quente!




Uma pequena história corriqueira, mas que eu estou anotando pra fazer questão de não esquecer.

terça-feira, 1 de março de 2011

Angry Birds

Angry Birds é um joguinho legal e viciante para celulares e iPods. O jogo é ridiculamente fácil de jogar, os gráficos são fofos e engraçados, e distrai que é uma beleza.
Eu ainda não terminei todos os níveis, mas falta pouco. :P

 

angry_birds_scale

O jogo virou uma febre tão grande que já rendeu bichinho de pelúcia, bolos super elaborados de aniversário, e vários vídeos no Youtube.
Dá pra baixar de graça no Market, pra quem usa Android. Quem usa iPhone ou iPod vai ter que baixar por algum aplicativo piratex.

Imagem daqui.

Porque as mulheres demoram tanto no banheiro:


Vi aqui.

domingo, 15 de agosto de 2010

How stuff works - Bolas de madeira


Eu adoro ver como as coisas são feitas. Mesmo as mais simples. Como por exemplo, uma bola de madeira. É, uma bola de madeira. Vc sabe como é feita uma bola de madeira? Eu não sabia.

Não é difícil de imaginar, certo? Só que eu – e provavelmente vc também - nunca tinha parado pra pensar em como elas são feitas.
De qualquer forma, se eu tivesse efetivamente parado e tentado adivinhar, teria imaginado uma idéia geral. Sem os detalhes que fazem toda a diferença e que são a graça de ver a atividade na prática.

E o mais bacana é ver que existem várias maneiras de fazer bolas de madeira.

Vendo coisas assim é que eu noto como mesmo nas coisas mais simples, o ser humano é criativo. E como existem vários caminhos diferentes pra um mesmo objetivo.
E fico pensando que, se houvesse um apocalipse e o mundo dependesse de pessoas como eu, eu duvido que a humanidade conseguisse sair do estágio de lanças com ponta de pedra lascada, e cabanas de palha.

Mas pelo menos a vila ia ser bem sinalizada, e os rabiscos nas cavernas iam ser bonitinhos…

 

 

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Prefiro ter um filho viado que um filho vizinho

neighbors-gardening
Tá, eu não prefiro ter um filho viado porque né, todo mundo é vizinho de alguém. Mas o nome da série é esse e eu tinha que fazer a gracinha.
Anyway, as pessoas são engraçadas, né? Faz mais de um mês que o teto do meu banheiro tá quase caindo por causa de um vazamento do vizinho de cima.
Assim que eu notei os primeiros sinais, avisei. O cara veio aqui, olhou tudo, trouxe o encanador de confiança dele, veio o zelador... Só faltava a porta-bandeira, tava a escola de samba toda aqui em casa.
Aí o gozado consertou o banheiro DELE, e tô até hoje esperando o mané mandar alguém vir consertar o meu. O encanador já me deu o bolo umas 4 vezes. E eu na maior boa vontade, esperando.
Desde terça, quando o o gesso finalmente abriu, tento ligar pra vizinha. Hoje eu finalmente consigo e a mulher solta os cachorros em cima de mim, como se EU tivesse culpa de alguma merda. Disse que o pessoal não veio arrumar o banheiro porque "ninguém marcou dia".

Claro, né, ô sua arrombada.


domingo, 18 de abril de 2010

Can you handle the truth?

O ser humano realmente se acha tão importante… Só mesmo uma espécie arrogante e iludida como a nossa pra achar que, depois de uma catástrofe que matou praticamente todos os animais e plantas, depois de trocentas eras glaciais, etc, a gente tem o poder de “acabar com o planeta”.

Enfim, eu poderia escrever aqui 2000 linhas sobre o que eu penso do assunto. E na verdade, sempre pensei em fazê-lo. Mas depois de debater no Orkut com alguns ingênuos e depois de conversar e trocar idéias ao vivo com gente que pensa como eu e vê a falta de lógica nesse alarmismo idiota que agora é moda, eu já considerava um tema explorado.

Às vezes eu tenho isso. Penso em coisas pra postar por aqui, mas deixo passar algum tempo e aí parece que perde um pouco o sentido, porque já refleti o suficiente sobre o assunto e pra mim ele já é old news.

Mas revi esse vídeo hoje e lembrei de como é bom. Como eu ri a primeira vez (e ri de novo agora) assistindo, pensando em como ele resumiu de forma clara e irônica exatamente o que eu penso. E que bom que o cara tem acesso a um bom público e faz as pessoas refeltirem um pouco e – mesmo que por alguns minutos – repensarem essa postura ridícula de self importance.

A gente sabe que depois a maioria vai recair, porque esse pensamento é reconfortante. Te dá um propósito nobre, em vez de mostrar a sua nulidade. Mas enfim.
Most people can’t handle the truth, já diria o Jack Nicholson.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Prefiro ter um filho viado que um filho despachante

despachante

O causo: a gente precisava de alguns documentos. Mais especificamente, 2 certidões. Troço relativamente simples, mas meio fora de mão pra tirar. Solução? Despachante, ué. Normal. Até aí, tudo bem.

Aí, lá vou eu catar despachante em SP. Coisa mais mole do mundo, né? São Paulo, porra. Não é, sei lá… Muriqui, por exemplo.

Ok. Internet, Google: Milhões de despachantes especializados em multas, carteira de motorista etc. Rodei umas 10 páginas de resultados e nada que não fosse isso. Resolvi ligar pra uma das firmas que achei melhorzinha, e o cara acabou me indicando outra firma que fazia documentos em geral. O cara foi solícito, ainda falou “pode dizer que fui eu que indiquei”.

Aí eu ligo lá na firma, a mulezinha que atende diz que o Sr. Fulano está viajando.
_ Tá, mas eu posso falar com outra pessoa?
_ Orçamento é só com ele. Mas amanhã de manhã ele já está de volta. É só enviar um e-mail que pela manhã a senhora já tem a resposta.

Whatever. Já era umas 17h mesmo, não tinha problema esperar até o dia seguinte. Mandei o e-mail especificando tim tim por tim tim o documento que eu precisava e o prazo que eu tinha.

Manhã seguinte, nada. Liguei, outra promessa que o e-mail logo seria respondido.
Dia seguinte, e nada. À tarde entrei em contato outra vez, já puta da vida, perguntando quanto tempo levaria pra eu receber um orçamento.

A essa altura, o Le por acaso acabou descobrindo uma firma de assessoria em documentos e eu já estava agitando orçamento e prazo de entrega com eles, porque senão eu tava esperando até agora.

Na manhã do terceiro dia me chega um e-mail do primeiro filho da puta perguntando QUAIS DOCUMENTOS EU PRECISAVA.
Cara, a informação estava nos CORNOS dele, na FUÇA. E corno filho de uma vaca me escreve perguntando.
Quer dizer, ele NÃO LEU porra nenhuma do e-mail, certo? COMO que alguém pode trabalhar assim? Aliás, como que alguém pode VIVER assim? Como alguém consegue ser capaz de responder um troço sem antes ler 2 linhas???

Anyway, só de sacanagem eu colei o conteúdo da mensagem original, exatamente da mesma forma. E ainda avisei que as informações constavam da primeira mensagem. E deixei pra lá, que desse mato não ia sair cachorro mesmo.
Dito e feito, o fulano sumiu. Rá, que inesperado.

A outra empresa me atendeu e deu orçamento na hora. Pediu R$ 90 por 2 certidões, e um prazo de 3 dias úteis. Achei justo. Ainda negociei desconto pra 2 cópias de cada, tudo certo.

Eu já tava até achando estranho conseguir o documento sem me aporrinhar. Aí vai a tal firma e me deixa plantada esperando, não cumpre o prazo de entrega. Eita porra, tinha que cagar no final. E nem pra avisar, claro.
Ligo, pago esporro, blá, blá, blá, tenho que aguardar até a segunda-feira seguinte. Pelo menos deu tempo.

Aí, já com os documentos em mãos, pagamento efetuado, tudo resolvido, recebo um e-mail do tal zé ruela da primeira firma, me dando um orçamento de 660 reais, pra apenas UMA cópia de cada certidão, e prazo de 7 dias úteis.

HAHAHAHAAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHA

Só rindo mesmo…

sábado, 10 de abril de 2010

Não é humor negro… É?

Hoje, abrindo meu ovo de páscoa (vejam vcs, ganhei no sábado passado e fui abrir só hoje, uma semana depois. Tô orgulhosa de mim mesma), lembrei de um episódio deprimente, ocorrido há uns 20 e poucos anos atrás.

Tô eu no colégio, segunda-feira depois da semana santa. Olho pra menina que sentava à minha frente, que normalmente ia bem largadinha pra aula e penso “ih, Fulana hoje veio toda arrumadinha”.

O cabelo - que normalmente era desgrenhado - me chamou especialmente a atenção, pois estava preso num penteado elaborado. Daí que eu fui admirar e… Vi que a fita que prendia o cabelo da garota estava estampada com logos da Garoto. Ou seja, era a fita do ovo de páscoa que ela tinha ganhado. Putz.

Daí eu pergunto… PRECISAVA?

Tsc.

domingo, 28 de março de 2010

For you will still be here tomorrow, but your dreams may not

Crédito da imagem: Indo Além

Todo jovem eventualmente recebe conselhos de pessoas mais velhas e sem dúvida pensa “ah, nada a ver, isso era na sua época” ou “comigo vai ser diferente” ou “eu não sou assim” ou “quem sabe o que é melhor pra mim sou eu”.

É uma pena que ele só vá apreciar e valorizar esses conselhos e ensinamentos mais tarde. Em alguns casos, simplesmente tarde demais. Em outros, ainda dá pra fazer algo a respeito, mas o arrependimento fica por conta do tempo perdido. E perdido de bobeira, por ingenuidade (quando não por arrogância).

O Brasil não é um país de oportunidades, é um país de miseráveis. O que é artigo de primeira necessidade já é considerado luxo. Imagina então o resto.
Aqui, ser bom no que se faz não é garantia de nada. Sucesso depende mais de sorte (estar no lugar certo, na hora certa, conhecer as pessoas certas) do que de competência. Porque ainda que existam poucas pessoas realmente capazes, existem ainda menos oportunidades decentes.

Se eu soubesse o que eu sei hoje, jamais teria feito a faculdade que fiz. É burrice, num país como o Brasil, abraçar uma carreira que não seja regularizada. Se as que o são, já são uma zona, imagina uma que nem precisa de diploma pra ser exercida. Brasileiro não dá valor a serviço. Ele também mal dá valor a produtos, mas pelo menos os valoriza um pouco mais. É algo que ele entende, que ele pode pegar na mão, sentir o peso, imaginar o custo do material e da produção. Mas serviço, esforço, talento, criatividade, valor do tempo empregado, custos indiretos? São coisas que o brasileiro não compreende e não respeita.
Isso só piora com o fato de qualquer um poder bater no peito e dizer que faz o mesmo que vc, mesmo não tendo estudado, sem ter o menor talento, nem saber o básico. Nivela a profissão por baixo, desvaloriza o trabalho.

A segunda burrice foi tentar (e principalmente, COMEÇAR) a carreira de forma independente, como empresária, em vez de contratada em um lugar qualquer. Se jogar no vácuo assim sem antes fazer contatos no meio, sem ter nem uma potencial cartela de clientes, foi mais que burrice. Foi loucura. Sem ter ninguém conhecido na área, ficar esperando que clientes caíssem do céu, sem saber como vender um serviço não solicitado a alguém que não te conhece… Deus, só sendo jovem mesmo pra não ter a exata noção de como isso é arriscado e estúpido. É aquele negócio: fazer odonto tendo pai dentista é uma coisa. Fazer odonto na careta, sem grana pra montar consultório, é outra.

O começo deu errado (é aqui que vc já-não-mais-tão-jovem olha e fala “nossa, jura?” rs)  e, entre vários problemas – entre eles uma depressão que durou muitos anos – eu me perdi. As coisas, até por questão de necessidade, enveredaram por um caminho que me desanimou (odeio, odeio web).
Curiosamente, no meio disso tudo eu me animei com um projeto específico e improvável e, apesar das circunstâncias, tive sucesso. O tal do “hora certa no lugar certo”, aliado à competência.

É, deu certo. Mas os frutos se escoaram no ralo de dívidas remanescentes da época de fracasso e de projetos em companhia de gente incompetente e irresponsável.
Engraçado que a maior mágoa que ficou desse período foi a viagem que eu queria fazer e não fiz. Era simples, era possível, era a recompensa, era a forma de aproveitar, era a única coisa que podia ser boa em muito tempo, depois de tanta privação. Mas… Não era pra ser. Por motivo nenhum, por nada, só por falta de boa vontade mesmo. Mas não era. Paciência.

Daí, como se isso não fosse o bastante, eu mudei minha vida. Toda. Ou quase. A única coisa que eu não mudei foi a profissão. Tive a pachorra de começar de novo, com mais de 30 anos. Não muito mais amparada do que antes, se dá pra acreditar. Com mais experiência, com certeza, mas com o mesmo tanto de clientes. rs.
Dessa vez eu não excluí caminho nenhum, considerei todos. E experimentei todos. Freela, inciativa privada. Ganhei ainda mais experiência, um puta portfólio (que nunca atualizo, mas enfim), confiança, e elogios por onde passei e pra quem trabalhei.
E aí eu vi que, apesar de ter curtido bastante fazer alguns trabalhos, eu na verdade não gosto da minha profissão. Vi que a parte realmente gostosa, a criação, é a que leva menos tempo, consome menos esforço, e corresponde a no máximo 10% do trabalho. O resto é aporrinhação, prazos insanos, invasão do meu tempo livre, negociação, revisão, cobrança, ficar de babá do trabalho dos outros, etc.

Como dizem por aí, nada melhor pra tirar a graça do que vc gosta do que transformar isso em trabalho. Trabalho é obrigação, não lazer. Então, whatever. Que pague bem, que tome o mínimo de tempo livre e dê o mínimo de aporrinhação. Quanto melhor o equilíbrio entre esses 3 requisitos, melhor o trabalho. Se paga MUITO, vc aguenta um tanto de aporrinhação. Se aporrinha demais e toma muito tempo livre, talvez mesmo por muito dinheiro não valha a pena.

Olhando pra trás, eu vejo o quanto de idealismo infantil me fez seguir esse caminho e descartar os conselhos do meu pai. Eu era ingênua e romântica e achava que “fazer aquilo que se ama” era mais nobre, era mais digno, tinha mais valor. Pfffffff, quanta besteira.
Hoje, que eu tenho nojinho desse idealismo moloide, é que eu vejo que não há nobreza nenhuma em ficar aturando cliente tentando reduzir seu preço como quem negocia em xepa de feira. Que fazer um trabalho que vc SABE que é horroroso só porque está recebendo pra isso, não te faz mais digno do que qualquer outra pessoa que vai pro emprego fazer o que tem que fazer e pronto. E que o seu trabalho tem o valor que vc recebe por ele, tanto faz se vc o ama ou se caga e anda pra ele.

Triste de quem se define pelo trabalho que faz, de quem precisa desempenhar uma função específica pra saber quem é e o valor que tem.

Então, que diferença faz? Mais vale aproveitar a melhor equação. E eu tenho que concordar que trabalhar de 9 às 6, sem hora extra, sem cliente pechinchando, sem se preocupar em levar calote nem em receber atrasado, sem ficar à mercê de humor de chefe maluco e crise financeira, com férias e décimo terceiro, financiamento pré-aprovado, plano de saúde e aposentadoria integral, e ganhando BEM, é uma equação vantajosa, que merece respeito.

Anyway, eu não escrevi isso pra decidir nada. E sim porque agora eu não só reconheço que meu pai estava certo, como imagino a agonia que ele deve ter passado assistindo às minhas cabeçadas, enquanto deixava eu seguir meu caminho e me apoiava do jeito que podia. E porque eu sei que eu POSSO decidir o que eu quiser, se eu quiser, sem medo de estar perdendo nada.
Talvez fosse desse processo que eu precisava. Fazer as coisas sozinha, me sentir capaz e saber que eu sou uma das boas naquilo que escolho fazer. Seja o que for.
Agradeço a vida que eu tenho, que me dá a oportunidade de poder tomar esse tipo de decisão. Conscientemente, sabendo que tenho apoio. Tem gente que não pode se dar ao luxo.

Agradeço também ter amadurecido e perdido o orgulho cego e imaturo e ganhado serenidade e um pouco de sabedoria. Normalmente essas coisas vêm com a idade, mas nem sempre.