quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Considerações sobre a beleza e a inteligência


"Você se acha bonita?"

Uma vez me perguntaram isso, e eu desconversei. Não ia dizer "não", mas achei que não pegava bem responder "sim". Hoje, me perguntaram a mesma coisa. E quer saber? Desta vez eu respondi que sim. Por que não? Haveria eu de mentir ou ter vergonha?

Muita gente acha arrogância, até mesmo falta de educação, admitir algo assim. Só porque se trata de algo considerado fútil. Não vejo essas pessoas criticando, por exemplo, quem se considera inteligente. Por que a vaidade é permitida para quem se orgulha do intelecto, mas não da aparência?

Na prática, vejo as duas características - beleza e inteligência - como motivo de satisfação. Uma independe da outra, portanto não as percebo como antagonistas. Justamente por isso, utilizo esse exemplo. O argumento de que "é melhor ser inteligente do que belo" é freqüentemente usado, reforçando a idéia de que essas qualidades têm alguma relação.

Se a beleza é relativa, a inteligência também é. Porque ninguém julga beleza ou inteligência, no dia-a-dia, baseado num parâmetro inquestionável. Você faz seu julgamento pessoal, que é moldado através da sua percepção. Certos tipos de aparência podem agradar a uma pessoa e não a outra, e certos tipos de raciocínio e sabedoria também.

Eu me acho bonita, sim. Lógico que há dias em que olho no espelho e me acho digna de pena. Assim como me considero uma pessoa inteligente e, no desempenho de determinadas tarefas, não me acho muito mais esperta do que um tapir.

Eu admiro a beleza nas suas mais variadas formas. Acho que o ser humano não sabe viver sem apreciar o belo. O que ele considera belo, aí já é outra conversa.

A inteligência, na minha opinião, é uma forma de beleza. Me fascina a maneira como alguém argumenta, o senso de humor indireto, o sarcasmo, a cultura. Isso vai, muito mais do que qualquer outra coisa, determinar minha atração por um homem, por exemplo.

Você pode, a partir disso, mostrar a "incoerência" do meu texto e afirmar que, então, a inteligência tem precedência sobre a beleza. Apesar de não serem características relacionadas, não disse que não considero uma mais importante do que a outra. Mas nenhuma delas é dispensável. Um homem não me atrairia, por mais inteligente que fosse, caso sua figura não fosse capaz de me despertar o desejo.

Alguns vêem na apreciação do que é belo a futilidade de uma sociedade que busca a perfeição estética. Eu vejo a beleza como coadjuvante, uma benesse. E decidi que não vou mais sentir vergonha de dizer que gosto da minha aparência.

A passagem do tempo favorece o acúmulo de conhecimento, mas aos poucos rouba a juventude, "fonte" da beleza digna de admiração, outrora objeto de poder. Não sou mais tão novinha, nem tão magra, nem sou mais o que se considera "padrão". Resumindo: já não sou tão bonita como antes; mas, curiosamente, hoje gosto muito mais de mim, me aceito mais.

Talvez eu esteja mais sábia.