sábado, 26 de julho de 2008

Miséria Animal X Miséria Humana

Em qualquer lugar, toda vez que surge o assunto de animais carentes, tortura animal, etc, vem alguém politicamente correto lembrar das criancinhas carentes e esfomeadas do Ziguinistão, e como o dinheiro que vc gasta no biscoitinho do seu cachorro poderia ajudar algumas dessas crianças.

Na boa, eu não concordo nem entendo esse paralelo com pessoas, a cada vez que se fala de maus tratos animais.

A miséria animal me sensibiliza. A humana também, mas BEM menos. Mas parece que isso é um pecado horrível, e que se vc se interessa por um lado, automaticamente tem que se interessar de forma igual pelo outro. Ora caralhos... Por quê?

Tá, pessoas sofrem, e animais sofrem. Beleza. Mas tem vezes que a gente está tratando de um assunto, e não de outro. São 2 problemas diferentes, que não precisam ser discutidos juntos.
Mesmo porquê, nem têm a mesma solução.

Eu não vejo, por exemplo, ninguém criando criancinhas em jaulas de laboratório, usando-as para pesquisas - que na verdade consistem em torturas - a vida inteira. Indiferença com a própria espécie é bem diferente de uma crueldade ativa e voluntária com espécies diferentes. Até moral e eticamente, a discussão é outra.

Não é porque tá faltando água em casa, que eu não preciso trocar as lâmpadas queimadas e ficar no escuro. Dá pra fazer as duas coisas.

E pra quem levanta a bandeirinha de que, se uma pessoa faz algo por um animal abandonado, ela é isso ou aquilo, porque deveria ajudar as crianças em vez de ajudar os bichos: uma coisa não tem NADA a ver com a outra. Ninguém é obrigado a fazer TUDO. Dá muito bem pra quem gosta de bicho ajudar bicho, e quem gosta de gente ajudar gente. Se todo mundo fizesse isso, em pouco tempo ninguém mais precisaria de ajuda.

Tem gente que tem mais empatia por pessoas, e tem gente que tem mais empatia por animais. Normal, foda-se. O planeta tem 6 bilhões de pessoas. Se, em vez de um criticar alguém que escolhe ajudar um animal, o crítico fosse ajudar uma criança, o mundo teria jeito.

Eu, por exemplo, não tenho a menor afinidade por gente. Me sensibilizo muito mais com o sofrimento de espécies indefesas que são dominadas, torturadas e agredidas por nós. O azar delas foi ter caído no mesmo mundo dessa coisa escrota que é o ser humano.
Agora, vou ter peninha de uma espécie como a nossa, que só faz fuder tudo em que põe a mão, e por onde passa? Que agride e maltrata até os próprios? Fala sério. Raça podre a nossa. Se a humanidade acabar, o mundo melhora.

Eu posso entender críticas a quem piora uma situação, ou a quem passa pela vida cagando um monte pra tudo e não faz nada.
Mas nunca, NUNCA vou entender críticas a quem faz algo para ajudar, só porque a pessoa não está ajudando àquele que preferimos.

Por incrível que pareça, tem gente que se especializa nisso. Em vez de se concentrar em unir esforços, ou em quem não contribui de forma alguma, a pessoa critica quem está ajudando como pode - ou, por que não? - como QUER (já que ajuda é algo voluntário).

Gente que diz "vc deveria estar ajudando uma criança, em vez de um animal", não merece o mínimo respeito da minha parte. Ao pensar assim, automaticamente ela cai no rol de coisas que eu acho desprezíveis. Quem é essa pessoa para criticar QUALQUER forma de contribuição, e ainda dizer a quem eu tenho que ajudar ou não?

Já me criticaram por dar brinquedos "fúteis" e petiscos caros à minha cachorrinha. Ora, que vão tomar no cu. É meu direito, e não é errado. Não está escrito em lugar nenhum que seres humanos valham mais que animais, ou mereçam mais atenção.
Cada um cuida daquilo que ama e valoriza. Eu, com certeza, valorizo muito mais minha cachorrinha, por exemplo, do que uma criancinha que a mãe leva todo dia ao cruzamento para pedir esmola no sinal. Entre uma e outra, eu não pensava 2 vezes. A primeira eu amo, a segunda eu não conheço. E àqueles que eu amo, eu dou do bom e do melhor, dentro das minhas possibilidades. Afinal, não estou tirando nada de ninguém.

Olha a bosta que eu tive que ler outro dia:

"Mas eu acho que uma pessoa que trata um cachorro como gente, que gasta uma fortuna com tratamentos de beleza, roupinhas fúteis, e coisas do gênero, poderia usar êsse dinheiro para ajudar uma instituição que cuida de crianças carentes."

Pra mim, isso é equivalente a dizer QUALQUER coisa. Tipo:
"acho que, em vez de gastar dinheiro em cinema, bebida, acessórios e luxos fúteis, as pessoas poderiam ajudar uma instituição de crianças carentes."

De novo: não sei porque a relação entre os animais e as pessoas. Não sei porque a futilidade de encher a cara no barzinho no fim de semana, só pra mijar tudo depois, não é lembrada na hora dos conselhos para cortar gastos inúteis e reverter a quantia poupada para crianças carentes.

Como disse, tem gente que não faz nada. Se um paparicasse o seu cãozinho, e outro dedicasse a mesma energia em prol de uma (ou mais, tanto faz) criança ou pessoa carente, o mundo não teria nem animais, nem pessoas em situação tão precária.

Mas, normalmente, quem mais dá pitaco, é quem menos faz.

Um comentário:

JuPisa disse...

"Não sei porque a futilidade de encher a cara no barzinho no fim de semana, só pra mijar tudo depois..."

E geralmente os pentelhos que enchem o saco com as crianças carentes gastam os tubos em cerveja, cigarro e sandálias de couro só para ficar no bar, empoleirado na cadeira fumando, bebendo e enchendo o saco dos "burgueses". Isso me irrita também. *PROFUNDAMENTE*.