quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A tal da barba por fazer


Moda, estilo, tendência e coisa e tal. Tá, eu entendo. Eu sou designer, amo tudo que é visual, valorizo a estética.
E sim, claro que eu sofro influência do padrão de beleza da minha geração. Por mais babaca que possa ser às vezes (tipos, mulher sem cintura é feio, mas hoje nego paga pau, então tá), muito dele acaba entranhando no nosso "gosto" e a gente nem percebe.

Pra quem é mais novo, esse processo é mais invasivo. Acho que a garotada acaba com o cérebro meio lavado mesmo, sei lá. Quando vc é formado no meio desse padrão, fica difícil sair.

Mas quando eu era mais nova (sentiram que eu já tô numa de "na minha época..."), não tinha essa de globalização, internet, silicone, lipo, TV a cabo, etc. Cada povo tinha um padrão de beleza próprio, que era mais ou menos condizente com suas características étnicas, o modo de vida local, e pá. E, quando aparecia alguma beleza fora do padrão, ela era admirada justamente por isso, pelo aspecto "exótico".
Tinha menina bonita que era peituda, e menina bonita despeitada. E a galera que gostava tanto de uma coisa quanto de outra. Ou das duas, em alguns casos. Hoje, ou a menina é peituda ou ela é uma pária e pode muito bem se matar.

Bom, toda essa intro ranzinza e saudosista é pra dizer o seguinte: tem modinhas que me irritam. Muito.
[Nota: quando eu falo que certas coisas me irritam MUITO (exemplo: Faustão falando "ô loco, meu, brincadeira"), eu não tô zoando. Tenho certeza de que altera até minha pressão, e se alguém me der uma arma nessa hora eu mato alguma coisa. Qualquer coisa.]

Enfim, voltando: certas modinhas me irritam. Uma delas é a tal da barba por fazer.

Tá, não me levem a mal. De vez em quando é legal, né. O cara fica com uma puta cara de macho provedor e tal, uma coisa assim meio tenho-muito-hormônio-sou-viril-meio-grosso-e-te-pego-na-unha. Às vezes eu curto.

Mas cara, tem que ter bom senso. Se exagerar, fica caricato. E aí passa a impressão só de porquice e desleixo mesmo. Ou o contrário: a impressão de que o cara é tão viadinho metrossexual que fica todo dia aparando aquela merda com um aparelhinho especial que deixa sempre na mesma altura. Patético.

Daí que eu reparo nesses detalhes irritantes, que acabam atrapalhando (mesmo que levemente) algumas coisas que eu gosto.

Por exemplo: LOST.
Alguém me explica COMO galère que tá há sei lá quantos meses numa porra de ilha fica ETERNAMENTE com 2mm de barba??
Eu entenderia se o cara ficasse barbudo. Ou se o cara às vezes fizesse a barba, e às vezes ficasse com preguiça e deixasse crescer um pouco.
Mas maluco, a barba tá sempre I-G-U-A-L. Foda isso.

Aí que nas férias eu fui ver Sherlock Holmes. Sim, eu já sabia que ia ser uma palhaçada releitura. Já sabia que o Sherlock seria uma mistura de Dr. House com Chuck Norris. Já tava com pena do Conan Doyle. Mas... Nhé. What the hell. Fui assim mesmo.


Sentiram o cabelo trabalhado na mousse?


Bom, o filme é muito fraquinho. O diretor, claro, cuspiu no túmulo do autor e chamou a mãe dele de coxinha. E eu adoro o Downey Jr, mas ele tá cagado nesse papel. Bem ruinzinho mesmo.

A merda é que, mesmo esperando um personagem mais pitboy e sarcasticuzinho (heh), eu achei que iam respeitar pelo menos os figurinos/padrões da época. E quando eu olho, tá lá o feladaputa de barba por fazer. O FILME TODO, CARALHO.
Sacanagem.


Amigo, o Sherlock Holmes - que nos livros era um cara metódico, asseado, formal, fleumático (resumindo: inglês) - do filme anda todo mulambento.
Acorda sujo e vai com a camisa dormida e babada pra rua, usa roupa amassada/manchada, não penteia o cabelo. Quase dá pra sentir o cheiro de bunda mal lavada da cueca freada que ele deve estar usando pelo segundo dia seguido, do avesso. Com certeza é o tipo de pessoa que não escova os dentes. E (surprise, surprise!) nunca - NUNCA! - se barbeia.

No século XIX, um cara andando assim na rua com certeza tomaria uns cascudos da polícia, ou uma cusparada pela janela do primeiro upper-class twit que passasse por ele de carruagem.
Imagina se alguém um dia ia parar para sequer ouvir o que ele tinha a dizer. Ainda mais levar a sério. Pfff.


Ou seja: de um nerd/gênio inglês, o Sherlock Holmes virou um babacão americano mal humorado e marrentinho de higiene pessoal duvidosa.

Maldito padrão. Maldita barba por fazer.

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