sexta-feira, 1 de abril de 2005

Pessoas Satisfeitas

Antes de qualquer coisa, é preciso que eu explique o que vêm a ser “pessoas satisfeitas”. Esse é um termo que eu uso pra definir aquele tipo de gente que nunca quer saber mais, que nunca quer entender mais, que nunca quer escolher nada.

Não sei se deu pra perceber, mas pessoas satisfeitas me irritam um pouco. Ou bastante, em algumas ocasiões.

Um bom exemplo é quando a pessoa satisfeita te oferece uma informação da qual você não fazia questão, mas não te oferece a informação toda. Aí você, que não tava nem ligando praquela porcaria, fica curioso. E ela não pode satisfazer sua curiosidade.

Tipo assim:

_ Fulaninho morreu.
_ Ah, é? De quê?
_ Acidente.
_ Puxa, que chato... Acidente de quê? Trânsito?
_ Acho que sim...
_ Como assim, “acha”? Você não perguntou?
_ Ah, não me disseram, né? Então não perguntei.
_ Porra (notem que a essa altura eu já estou levemente irritada), mas você nem se interessou? Alguém MORRE e você não pergunta o mais importante?? De QUÊ que o Fulano morreu?
Tipo, pode ter sido acidente de trânsito e, se foi, ainda pode ter sido de carro ou de moto. Ele podia estar dirigindo ou ser passageiro. Se estava dirigindo, pode ter sido culpa dele ou não. Pode ter morrido na hora ou ter sido socorrido e morrido no hospital. Outras pessoas podem ter ficado feridas. Olha quantas perguntas você não fez (BASTANTE irritada, nesse estágio)!!!
Isso sem contar, claro, que ele pode ter sido atropelado. Estaria ele atravessando fora da faixa? Teria o motorista que o atropelou avançado o sinal? Teria subido na calçada, indo o matar o pobre numa situação super azarada??
E mais: e se não foi acidente de trânsito? Pode ter sido afogamento. Ou bala perdida. Pode ainda ter sido acidente de trabalho. Ele trabalhava com o quê?
_ Sabe que eu não sei?
_ Não me diga...
(e saio de perto pra não cometer assassinato)


Outra situação do dia-a-dia de uma pessoa satisfeita é a facilidade com que ela ignora certas coisas que, na minha opinião, são falhas. Uma ida ao cinema é ótima para revelar se quem está assistindo um filme ao seu lado é uma pessoa satisfeita ou não.

Se você é como eu, se sente levemente incomodado de ver, nos filmes, como um mendigo consegue ir entrando num hospital e se fantasiar de médico e ninguém achar estranho.


Sei lá. No mínimo, eu pergunto como que alguém não viu o mendigo entrar. Como que ele burlou a segurança. Como que ele sabia onde encontrar o depósito de roupas de médico (EU não sei onde fica, ia ter que perder mó tempo procurando). Se ninguém reparou que ele não tem crachá. Se a equipe é tão desunida a ponto de ninguém conhecer quem trabalha lá. Se ninguém percebeu que ele fede, ou que está sujo. Essas coisas.

A pessoa satisfeita não acha nada disso estranho. Ela simplesmente aceita que o mendigo ESTÁ no hospital, se passando por médico. E curte o filme, enquanto eu acho o filme uma merda.



Outro comportamento típico de uma pessoa satisfeita é que ela não precisa escolher nada, pois tudo lhe agrada.

_ Você quer pizza ou carne?
_ Tanto faz.
_ Mas o que você prefere?
_ Ah, tanto faz, eu gosto dos dois.
_ Tá, mas qual você gosta MAIS??
_ Ah, depende do dia.
_ Ok, hoje?
_ Ah, hoje tanto faz.
_ Ok, pizza então. De quê você quer?
_ Do que você quiser...
_ Ok, pepperoni.
_ Aaahhh... Pepperoni eu não gosto muito...
_ Foda-se.

4 comentários:

Anônimo disse...

Chato mesmo é quando você explica todas as "impossibilidades" do filme de uma maneira plausível, e a pessoa continua achando o filme uma merda! Aí, é implicância... :D

Eu posso explicar tudo no filme. No caso do hospital e do mendigo, obviamente o hospital presta serviços à comunidade; quem sabe que o mendigo não está lá acompanhando a mulher dele que teve um treco? Social Security...

Hospitais são grandes. Você pode ter um médico de outra especialidade passando por um determinado lugar onde ele não passa usualmente, e ninguém questionar. EU sei que não estranho ver gente que eu não conheço nos corredores da faculdade, porque um hospital seria diferente?

O vestiário dos médicos tem chuveiro, senão cirurgião não sobreviveria no mundo real. E, obvimente, fica num andar térreo: você não quer que o médico contamine todos os andares indo com a roupa da rua procurar o vestiário... Logo, nem tem muito onde procurar, é rápido de achar.

Crachás não são estéreis. Melhor não usar mesmo. E mesmo que tivessem que usar, os seguranças não têm a moral de parar um médico que pode ir estar salvando alguém, urgentemente, pra ficar de picuinha com "onde está o seu crachá". Se eu fosse parado assim o cara ia ouvir pra caralho.

Só não consegui achar, até hoje, a explicação pra Beatrix Kiddo conseguir tomar uma avião pra Tokyo com uma espada na mão. Essa foi foda...

homempasmado disse...

Miúda, pensas muito e pensas bem.
:-)

Deves sentir-te, de vez em quando, como uma extraterrestre...

Tchau.

Milena disse...

Milord,

Uma dessas coisas passar, tudo bem. Duas, já força um pouco a barra... Três eu já diria que é impossível, mas vá lá. Mas TANTA coincidência e TUDO dando certo?
Só em filme mesmo...

Te desafio a entrar num hospital, achar o vestiário, se vestir com um jaleco e sair dando uma de médico por lá. Se vc documentar isso pra mim, eu paro de implicar com os filmes.

Anônimo disse...

Estipule as condições a serem satisfeitas para você me considerar bem sucedido, e está feito!